sábado, 30 de julho de 2011

Uma tarde e dois sorrisos. Parte 3


Minha mãe levou um tiro. Eu disse pro Bruno. Ele ficou tão espantado como eu, sem nem pensar, ele levantou e foi logo pegando a chave do carro para irmos vê-lá. O Bruno adorava minha mãe, eles se davam muito bem.
Minha cabeça estava explodindo, não conseguia aceitar o fato de ser nela, na minha mãe. Meus pensamentos estavam turvos, e eu percebia que estava prestes a desmaiar. Meu coração batia disparadamente. Peguei meu sobretudo na porta e nós saímos.
O clima no carro foi de total silencio. Meus músculos contraidos, e meus olhos começando a ficar salgados. Em questão de minutos, eu já estava chorando. Que sensação horrível, que medo de perder minha mãe, minha melhor amiga, a mulher que eu mais amo nesse mundo.
Enfim eu percebo que o carro não está mais em movimento, o ronco do motor começa a diminuir, só uma luz acesa em toda a casa. Eu não queria descer. Eu não suportaria ver a dor da minha mãe e não poder fazer nada. Eu sempre pensei em fazer medicina, mas não dava pra mim, estudar que nem uma condenada... Jamais! Minhas pernas trêmulas, meus olhos embaçados de tão molhados. Agora que estava ali, eu precisava descer.
Toquei na campanhia, ninguém desceu pra atender. Bati na porta e ninguém falava nada. Gritei pela minha mãe e fiquei sem resposta. Será que não tinha ninguém em casa? Comecei a ficar realmente preocupada. O Bruno ligou pra todos os telefones, todos desligados.
Minha mãe sumiu, só pode!
Peguei meu celular, e fui nos registros de chamada. Percebi que o número que havia me ligado era desconhecido. Tentei lembrar da voz, e ela não parecia com a do meu pai, de jeito nenhum. Tinha uma voz suave e doce. Talvez fosse de algum médico no hospital. Mas ele teria ligado do telefone empresarial.
Fiquei sem ação.
-Duda, você tem certeza que tudo não passou de um trote? Perguntava o Bruno, tentando parecer normal, mas eu percebia pelo mexido no cabelo que ele estava mais nervoso do que em final de copa do mundo.
-Absoluta, falaram claramente pra mim. "Sua mãe foi atingida por uma bala no meio da rua, ainda não conseguimos identificar da onde ela partiu, mas estamos fazendo o possível. Em instantes, entrarei em contato novamente." "Agora, ela não está consciente por isso nós podemos demorar um pouco mais pra descobrirmos quem atirou."
-Certo, então não foi seu pai que te ligou. Quem sabe se você ligar pra polícia, eles podem te dar algum tipo de informação sobre algum acidente que aconteceu recentemente?
-É Bruno, mas cadê meu pai? Porque ele não tá aqui? Ele nunca saí de casa...
-Não sei Du, vamos com calma. Cada parte de uma vez. Vamos tratar de achar logo sua mãe e depois procuraremos seu pai.
Eu estava tão nervosa, que acabei aceitando a oferta do Bruno, mesmo sabendo que teria que procurar pelo velho, logo mais logo menos...
Ele começou a ligar pras polícias locais, pra tentar achar alguma informação. Eu não queria preocupar o resto da minha família, então nem ousei em ligar pra ninguém. Já bastava eu com problemas. Que domingo conturbado eu estava tendo, preferia mil dias de trabalhos compridos. Fui pra porta dos fundos, enquanto escutava os sussurros do Bru no telefone.
O jardim de trás estava uma bagunça, fazia tempo que eu não andava por lá. Ainda tinha restos do meu 'mini-parque' feito pelo meu pai. As folhas secas no chão, me lembravam o cenário da viagem que tinha feito ao Canadá mês passado. Os galhos atrapalhavam minha entrada. Depois de algum esforço consegui chegar.
A porta estava um lixo, dava pra reparar que a muito não fora aberta. Com certeza estava fechada. Tentei pelas janelas e nada. As janelas estavam bem limpas, isso era sinônimo de que minha mãe havia feito a faxina ontem. Enquanto olhava os pratos, vi um vulto nas escadas. Um vulto rápido, de alguém alto.
Isso é tudo coisa da sua cabeça Maria, esqueça isso. Como você acha que poderia ter alguém em casa, se você bateu e ninguém abriu? Eu não conseguia cair nas minhas mentiras, ou melhor, na minha tentativa de me convencer a fingir que não vi, aquilo que eu tinha certeza de ter visto. Minha adrenalina subiu. Eu sentia ela sendo liberada pelos meus neurônios, eu sentia ela possuindo cada pedaço de mim. Eu tinha vontade de chorar e ao mesmo tempo de correr. Saí daquele jardim. E quando pus os pés fora, fingi que nada daquilo tinha acontecido.
Segurei na mão do Bru, e chamei ele pro carro, pra ir pra casa. Acho que depois de tanto tempo juntos, ele conseguia ler no meu olhar que eu não estava bem. Rapidamente, chegamos em casa.
Nada de notícias da minha mãe, meu pai nem as caras deu. Isso tava me deixando angustiada.
Até que Bruno conseguiu falar com um polícial, ele disse que não podia dar nenhum tipo de informação pelo celular. Já estava quase escurecendo, fomos lá. Ficava a alguns KM de distâncias, o que informava pra mim, que demoraria pra chegar. Principalmente com o trânsito que estava. Já estamos quase chegando.

Uma tarde e dois sorrisos. Parte 2

Cheguei em casa depois de mais algumas horas lá na loja, liguei pra algumas amigas pra perguntar como tinha sido o show. Elas contavam exaustivamente tudo, mas nada daquilo realmente me interessara. Acho que o show foi bom, mas não conhecia muito a banda, então... Deixei pra lá.
Não tinha ninguém em casa, acho que o Bruno estava trabalhando, ou na faculdade.
Minha família era pequena. Antes de me mudar, morava só com meu pai, Filipe e minha mãe, Juliana. Eles me batizaram de Maria Eduarda, porque achavam o nome bonito. Não sei se combina muito comigo, mas já me acostumei com 'as brincadeiras com o nome da Duda' como minhas amigas falavam.
Enquanto pensava no dia, ia procurando algo pra cozinhar. A fome havia batido as portas do meu estômago e como eu não tinha muito tecido adiposo, precisava comer algo urgente. Fiz um macarrão instantâneo. Acho que em menos de duas gafadas, eu já havia acabado o prato inteiro.
Como tava com preguiça de me banhar, liguei o computador e me joguei no sofá. Droga está com pouca bateria, eu pensava. Fui pegar o carregador na minha bolsa e procurando, achei o cartão. Ele era simples, branco com o nome e o telefone num relevo sutil. Carlos Henrique tinha escrito. Era advogado, tinha um futuro pela frente. Olhei e revirei o cartão, pra ver se surtia alguma ideia sobre o que fazer com ele. Tava tão cansada que acabei desistindo de pensar. Joguei-o de novo pra dentro, e fui pra sala.
As fotos no facebook entregavam uma tarde alegre de sábado,  ainda bem que amanhã é domingo e eu vou poder descansar. Nada de trabalho, nada de estudo, só felicidade. Liguei pro Bruno, pra saber onde ele tava. Precisava de alguém pra acabar o dia bem. Ele já estava voltando pra casa, tinha um congestionamento incrivelmente grande na caxangá - como sempre. Ia demorar bastante.
Falei com Marianne pelo messenger, chamei ela pra me fazer companhia e quem sabe tomar uns drinques. Ela chegou rápido, começamos a conversar e eu comentei sobre o tal cara que tinha aparecido na loja hoje. Decidimos procurar por ele no face. E encontramos. Tinhamos em comum, alguns amigos. Nenhum muito importante aliás. Fomos tentar ver as fotos, trancadas. Desistimos e fomos ver alguns filmes.
Depois de algumas horas, Bruno chegou. Marianne foi embora e bem... Nada do que acontece depois eu preciso comentar, né?
O dia já amanheceu e eu não tinha planos pra nada. Foi aí que eu recebi uma ligação que me deixou boquiaberta. Levantei rapidamente para resolvê-la.

Uma tarde e dois sorrisos. Parte 1

Acordara a pouco. Cabelos bagunçados, lençol desforrado e olhos borrados. Esquecera de novo de tirar a maquiagem antes de dormir. A noite tinha sido extraordinária. Saíra com os amigos pra aproveitar o que lhe restava de tempo, antes que as aulas começassem. As coisas haviam de ficar complicadas quando os estudos chegassem novamente. Não queria nem pensar nisso, se levantou e foi ao banheiro.
Como de costume, lavou o rosto com a água gelada, pra ver se despertava algum ânimo pra continuar vivendo esse dia. Taí, ela sabia do que precisava, ânimo... O problema é que ele não queria ficar nela. Chegava despercebidamente e com o virar das caras, sumia.
Seria até um problema, se ela não entrasse de cabeça no chuveiro, e sentisse cada gota d'água escorrendo por suas curvas. E cada uma delas representava uma sensação diferente.
Saiu de casa pra ter um dia como todos os outros. Trabalhara numa lojinha, um pouco longe de casa, diga-se de passagem, mas ela adorava os mimos e as criaturas que apareciam repentinamente por lá.
Quando chegou, deu um bom dia meio amargo e trocou sua roupa. Estava numa ressaca inigualável, daquelas que você prefere morrer a ter que trabalhar - ou fazer qualquer outra coisa que não seja estar em casa, deitada. Passou o dia inteiro quieta, o movimento estava pequeno, as pessoas estavam na praia, aproveitando o dia lindo que estava fazendo, e além do mais, iria ter um show gratuito de uma banda super nomeada, que eu não recordo o nome agora.
Morte do narrador, agora quem rege essa história sou eu
Sempre falavam que eu era meia diferente, apesar de meiga. Não ligava muito. Tinha um namorado, uma família, e todo aquele clichê que todo mundo tem. Pra mim, era isso que importava.
Chegou um homem na loja que chamou atenção de todas as outras garotas. A minha não. Tava tentando descobrir o que tanto aquele homem tinha, porque não sei ein? Quanta mulher querendo pegar.
Jesus, eu pensava, abençoa essas pobres encalhadas a achar pelo menos um partido bonzinho!
Ele saiu andando pela loja, e como eu estava em expediente de trabalho, fui atendê-lo, lógico.
-O senhor deseja alguma coisa em especial? Procura por algo? Daí, ele me fitou com aqueles olhos claros e depois de algumas mexidas no cabelo disse.
-Sim, estava precisando de um presente. Um presente simples, mas que significasse bastante. Minha mãe está de mudança e queria deixar algo na casa nova, que me lembrasse.
Parei pra pensar, um homem desses, comprando presentes pra mãe? Onde que se fabrica mais homens assim que eu não sei? Pelo que eu conhecia, só meu namorado fazia dessas coisas.
Lembrei de um lustre esverdeado que tinha chegado semana passada, ele lembrava os olhos claros do moço.
Fiz alguns sinais pra ele, indicando que ia pegar algo e que já voltava. Ele entendeu perfeitamente e sentou para esperar. Fui até lá dentro e peguei-o. Era grande e rústico, parecia uma peça importada, uma peça muito valiosa... Mas só parecia. Havia chegado do Canadá, de uma família que se separará a poucos. Aquele lustre tinha uma história bonita, pena que acabou.
Parece que ele entendeu o lustre da mesma forma que eu. Sem devaneios, foi logo passando o cartão de crédito pra levar. Alguma coisa naquele homem ainda me deixava intrigada. Não sei se o jeito dele, mas tinha algo no olhar dele, que estava muito errado.
Não demorara, e agradecia pela minha escolha, tão certa e tão pontual. Quando saia, deixou cair sua bolça, o que derrubara algumas almofadas, quando fui ajudá-lo, percebi um pedaço de papel caído perto a porta. Agradeci e ele se foi.